Clichês imunes a radiação
Misturando mutantes e locais obscuros da Ucrânia, “Chernobyl”, que surpreendemente ganhou um título mais curto que o original (“Chernobyl Diaries”) é um suspense / terror que aposta em perseguições e paranóia com resultados consideravelmente fracos para qualquer um que já assistiu outras produções do gênero.
Chris (Jesse McCartney), sua namorada Natalie (Olivia Dudley) e sua amiga Amanda (Devin Kelly) acabaram de chegar em Kiev, Ucrânia, para visitar seu irmão, Paul (Jonathan Sadowski), que mora no país. Para recebê-los, Paul decide levar o grupo para uma jornada de turismo radical. Acompanhados pelo guia Uri (Dimitri Diatchenko), mais o casal de turistas Zoe (Ingrid Bolsø Berdal) e Michael (Nathan Phillips), Paul e seus amigos vão explorar a cidade-fantasma de Pripyat, nos arredores de Chernobyl, onde o grande acidente nuclear havia acontecido anos antes. Não demora para que o grupo descubra que, além de animais selvagens e radiação, há algo ainda mais perigoso no lugar.
Um grupo de turistas presos em um local abandonado, sobre o qual existem várias lendas urbanas… se a fórmula parece familiar, é porque realmente é. Como todos elementos de “Chernobyl”, clichês não faltam, com um enredo e apresentação que é uma coleção de lugares-comuns. Some um grupo de personagens pouco interessantes, que também se encaixam facilmente nos moldes de muitos filmes (desde o “amigo estranho” ao “herói conservador”, passando pelo “herói impulsivo”), e as únicas surpresas ficam quando estamos nos perguntando o que irá pular em direção da câmera na próxima cena de suspense.
De fato, o roteiro cai repetidamente em “clássicas” más decisões simplesmente para prosseguir com a história. A todo e qualquer momento que há um prenúncio ou dica de eventos futuros, esse fica tão óbvio que estraga a brincadeira, subestimando o público pela obviedade. Os poucos momentos emocionais não emocionam, e entre correria desenfreada e exploração de locais escuros, conforme o tempo passa nos importamos cada vez menos com os personagens. O final, que usa uma velha fórmula de impacto reciclada milhares de vezes no passado, só aumenta a sensação de perda de tempo.
Mesmo os “monstros” – e acredite, não é spoiler nenhum que existem criaturas de algum tipo – são consideravelmente sem graça. A lenda urbana real sobre o lugar fala de mutantes gerados a partir da radiação, fonte da qual o diretor escolheu beber. Talvez pela demora de mostrá-los, ou pela opção do diretor de nunca focar bem nenhum deles, acabamos ficando com vilões sem cara ou personalidade, e mesmo o pouco que podemos ver não impressiona, deixando a dúvida se faltou inspiração, orçamento ou os dois. Ao menos, em outros terror-sobrevivência do tipo, temos inimigos mais interessantes.
Os cenários, por outro lado, oferecem ambientes interessantes para a ação e o suspense, especialmente quando consideramos que a cidade de Pripyat é real. Boa parte da tensão é gerada pelo local, sejam os ambientes inóspitos e, especialmente, as construções e túneis da área urbana abandonada. Com exceção de alguns poucos locais genéricos, este é um ponto considerável da produção, que também insere bons elementos ao enredo como a radiação. Infelizmente, como todo o resto é fraco, há pouco aqui que possa salvar.
O elenco em si não chama a atenção, mas também não desagrada. É possível notar que nenhum deles tem grande margem para manobra dentro dos personagens fracos e roteiro cheio de furos. Por sorte, passamos mais tempo com os que parecem ter mais experiência em atuação – o que não quer dizer muita coisa.
Vale lembrar, o diretor é Oren Peli, mais conhecido como diretor de “Atividade Paranormal” (2007) e produtor das duas sequências, assim como do quarto filme, marcado para outubro deste ano. Considerando esta produção, fica evidente que Peli se dá bem melhor com os monstros sobrenaturais.
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