terça-feira, 2 de outubro de 2012

Um homem se vai, um legado permanece....



LONDRES –Morreu na segunda-feira, 1º, aos 95 anos, o historiador britânico Eric Hobsbawm, depois de uma longa pneumonia que o manteve internado por meses em Londres. Era considerado um dos mais importantes historiadores do século 20, autor de mais de 30 livros traduzidos em todo o mundo. Com a trilogia Era das revoluçõesEra do capital e Era dos impérios, que fez parte da formação de várias gerações – no Brasil foi um dos livros mais estudados em cursos das áreas de ciências humanas a partir dos anos 1970 – Hobsbawm analisou o que chamava de “o longo século 19”, período que vai de 1789 a 1914, ou seja, das revoluções europeias às vésperas da Primeira Guerra Mundial.
No livro que deu sequência ao conjunto, Era dos extremos, Hobsbawm retratou, em contrapartida, o “curto século 20”, que vai da Primeira Guerra à queda do Muro de Berlim e à derrocada da União Soviética e dos países comunistas europeus. Seus livros, mesmo marcados pela metodologia marxista, não se limitavam ao enfoque político-econômico, tendo sempre grande sensibilidade para as questões culturais. 
A vivência de Hobsbawm como aluno durante a década de 1930 na Alemanha ajudou a consolidar suas visões de esquerda. Em 1936, na Inglaterra, ele entrou para o Partido Comunista, do qual foi integrante durante décadas, apesar de ter se desiludido com a União Soviética.
Hobsbawm era grande conhecedor de jazz, tendo escrito artigos sobre o tema, assinando como Francis Newton, para a revista New Statesman. Chegou a publicar uma prestigiada História social do jazz. Em tempo: o pseudônimo usando pelo historiador era uma homenagem ao trompetista de Billie Holiday, que era comunista. Além dos livros sobre grandes períodos históricos, Hobsbawm tinha interesse por movimentos revolucionários, agitadores pré-políticos e banditismo social.
Hobsbawn nasceu na Alexandria, no Egito, em 1917, filho de pais judeus. Ele cresceu em Viena e em Berlim, mudando-se para Londres em 1933, mesmo ano em que Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha.
O historiador filiou-se ao Partido Comunista inglês em 1936,  permanecendo ligado a ele durante décadas até se desiludir com a União Soviética, depois da invasão da Hungria, em 1956. Esteve também vinculado ao Partido Trabalhista britânico, de esquerda. Naturalizado inglês, chegou a ser descrito pelo ex-líder trabalhista Neil Kinnock como “meu marxista favorito”. Em 1978, entrou para a Academia Britânica.
Sua carreira acadêmica foi brilhante, tendo lecionado nas principais universidades britânicas. Como professor convidado, deu aulas na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Cornel, nos EUA. Em 2003, Eric Hobsbawm veio ao Brasil para participar da Festa Literária de Paraty (Flip).
Marxismo
Com trânsito entre intelectuais de todas as tendências, a obra de Eric Hobsbawm é o melhor exemplo do método dialético em história no século 20. O historiador nunca renegou suas raízes intelectuais e chegou a organizar uma impressionante História do marxismo, em 12 volumes. Seu último livro, Como mudar o mundo, publicado no ano passado, estuda a origem da produção teórica de Karl Marx (1818-1883), analisando as influências do socialismo francês, da filosofia alemã e da economia-política britânica. 
Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, publicada à época do lançamento do livro, declarou: “A redescoberta de Marx está acontecendo porque ele previu muito mais sobre o mundo moderno do que qualquer outra pessoa em 1848. É isso, acredito, o que atrai a atenção de vários observadores novos – atenção essa que, paradoxalmente, surge antes entre empresários e comentaristas de negócios, não entre a esquerda”.
Seu livro de memórias, Tempos interessantes – Uma vida no século 20, é uma análise sem autoindulgência de sua trajetória intelectual e dos desafios políticos vividos. Além de retomar algumas reflexões que fizeram parte de sua obra de historiador, tem passagens sobre a América Latina e o Brasil, ao qual faz duas referências: acerca de uma conferência proferida em Campinas, em 1975, durante a ditadura militar, e sobre o significado político do Partido dos Trabalhadores (PT). Historiadores não costumam falar sobre o presente. Mas Eric Hobsbawm nunca foi ortodoxo e seu maior desafio sempre foi entender seu tempo.


Principais obras 
1962 – A era das revoluções (Paz e Terra)
1969 – Bandidos (Paz e Terra)
1973 – Revolucionários: ensaios contemporâneos (Paz e Terra)
1975 – A era do capital (Paz e Terra)
1987 – A era dos impérios (Paz e Terra)
1989 – História social do jazz (Paz e Terra)
1994 – A era dos extremos (Companhia das Letras)
2002 – Tempos interessantes (Companhia das Letras)
2011 – Como mudar o mundo (Companhia das Letras) 


 O historiador deixa a mulher, três filhos, sete netos e um bisneto, além de um grande legado no plano das ciências humanas; como amantes da história deixamos aqui nossos sentimentos a perda de um gênio. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário